PALAVRAS COM ALMA
Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.
Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?
Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?
Ninguém responde, a vida é pétrea.
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.
Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?
Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?
Ninguém responde, a vida é pétrea.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
1 comentário:
Ferida de amor não mata, mas dói como nenhuma outra, qual chaga areada de sal. Estranha doença d'alma, esta, que na vigília, triste, evoca o sonho ridente, sempre presente, no olhar do amante paciente. Uma febre contida entre sorrisos e lágrimas por um presente doente e um futuro distante.
Da noite angustiada despertas para a manhã amordaçada de um gesto emudecido, de um olhar escondido, de um grito silenciado. Longa se torna a espera...
Mas num sorriso, num olhar terno, numa palavra murmurada, surge a cumplicidade de um amor partilhado, dorido, adiado... não cumprido.
Pétrea, é a vida. Mas o vento corrói a pedra, que em grãos inunda a praia para o mar poder beijar.
Adoro sentir o vento no rosto...
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