Ubi Veritas

ALGUMA INSPIRAÇÃO
Quero ser grande
Sentar-me na glória
Firmar-me na história
Mover vontades
Ser grata certeza

Quero ser grande
Erguer troféus
Angariar aplausos
Vencer descréditos
Negar deméritos

Quero ser grande
Alimentar suspiros
Despertar sorrisos
Perpetuar lembranças
Inspirar intentos

Quero ser grande
Imprimir ecos
Pular montanhas
Semear horizontes
Merecer olhares

Quero ser grande
Vingar as lágrimas
Enaltecer a luta
Provar a força
Ancorar no sonho

Quero ser grande
Porque te amo

Salomé Castro in Ubi Veritas

Livros ricos e adaptados ao desenvolvimento emocional das crianças e jovens

ANÁLISE LITERÁRIA – Opinião


As capacidades de leitura e de escrita, começam a ser construídas muito antes de a criança entrar para a escola. O estímulo resulta de todo o universo de letras que a rodeia.
Quando uma criança tem a oportunidade de observar o uso que fazem da escrita e da leitura em seu redor, ela acaba por perceber a eficácia social desta actividade - condição indispensável para a construção da sua própria escrita/leitura.
Para crianças em idade escolar é de suma importância o papel das bibliotecas escolares, bem como a intervenção da família na criação de hábitos de leitura. O meio que rodeia a criança está carregado de significação, logo, o que nele se passa desperta curiosidade e é estimulante.
Portugal é um país que carrega a atribuição de baixos índices de leitura. Um perfil negativo que só poderá ser invertido partindo das novas gerações. Pais, professores e sociedade em geral, parecem estar conscientes dessa condição.
Ainda que a imprensa não lhe dedique especial atenção, a literatura infanto-juvenil começa a deixar de ser encarada como uma arte menor. Sinal da adesão dos portugueses a obras concebidas para essas faixas etárias é o facto de as editoras apostarem, a bom ritmo, na publicação de livros para crianças e jovens. Mais títulos (o que não implica necessariamente mais livros vendidos; apenas tiragens menores e uma maior rotatividade de títulos nos escaparates) e conteúdos cada vez mais ricos, é uma prática em crescendo. Além disso, a vitalidade desta área editorial constata-se, também, pela aposta em ilustradores qualificados.
A consciência de que os livros infantis (da autoria de novos autores, mas também com assinatura de grandes mestres da literatura) são o primeiro passo para aprimorar a cultura – com frutos a colher a médio/longo prazo –, tem vindo a estabelecer um crivo qualitativo cada vez mais apertado. Os exemplares colocados à venda vão deixando de apresentar conteúdos pobres e até estupidificantes. O resultado – comprovável num contacto atento com alguns dos muitos títulos que afloram nas livrarias – apresenta-se, regra geral, sob a forma de textos ricos, dinâmicos e adaptados ao desenvolvimento emocional das crianças e dos jovens.

Ubi Veritas

ALGUMA INSPIRAÇÃO
Viajo entre o sono e a vigília
e vejo pomposos pavões
de indisfarçada altivez

Suponho uma literatura rural
e busco a doce fragrância
da ténue bruma

Descubro lagos vestidos de nenúfares
e placidamente me prostro
em busca de revelador reflexo

Escuto o aspergir suave das fontes
e fecho os olhos para sentir
o seu choro baixo e pungente

Percebo o deleite do luar sulcando a noite
e inclino-me reverentemente
perante tão expostos amantes

Adormeço

Salomé Castro in Ubi Veritas

Apelo à curiosidade com soluções ousadas para problemas originais

ANÁLISE LITERÁRIA - Infantil


"Sua Senhoria, a Fada" é o segundo título da série "Crónicas de Sua Majestade, o Príncipe", da dupla Bruno Santos e Júlio Vanzeler.
Com a ajuda do Príncipe, a Fada vai tentar descobrir a causa e a solução para dois mistérios que a todos preocupam: os súbitos desaparecimentos e aparecimentos surpresa da tímida Princesa e a origem de uma súbita crise de espirros da Rainha Avó.
Uma história que vai beber aos tempos idos do “era uma vez...”, dando protagonismo a um príncipe, uma princesa e uma rainha no “palco” de um castelo; adicionando-lhe um toque de conto de fadas (com a presença da espampanante, roliça, vaidosa e nada "tradicional" Sua Senhoria, a Fada); e, ainda, oferecendo-lhe pormenores ancorados num futuro quase de ficção científica.
Este é o claro exemplo de uma obra que respira a dois tempos, o do texto e o das ilustrações - servidos e fruídos em partes iguais. Ambos provocam a curiosidade do leitor dando forma a um enredo que propõe soluções ousadas para problemas originais.
Vencedor do prémio de Literatura Ferreira de Castro, Bruno Santos escreve para crianças e adultos, e tem um significativo percurso no campo das artes plásticas, como artista e professor.
Júlio Vanzeler fez o curso de Design e Ilustração do CITEM, onde depois deu aulas de ilustração e desenho de figura. Colabora regularmente com o Teatro e Marionetas do Porto como ilustrador e designer de marionetas.
Editado pela Dom Quixote
, "Sua Senhoria, a Fada" (12,50 euros) sucede "Sua Majestade, o Príncipe".

Quero

PALAVRAS COM ALMA
Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.
Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anteriore no seguinte,
como sabê-lo?
Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.
Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.
Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa colecção de objectos de não-amor.

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

Hatherly na primeira e na terceira pessoa

ANÁLISE LITERÁRIA - Ensaio (Poesia)

É referenciada, a nível poético, como um dos nomes mais importantes das vanguardas portuguesas da segunda metade do século XX. A sua poesia reúne fortes tendências barroquizantes e visuais que a têm já levado a uma diluição de fronteiras entre expressão poética e intervenção plástica. Falamos de Ana Hatherly.
"Interfaces do Olhar" é uma colectânea de ensaios de vários autores (Ana Gabriela Macedo, Ana Marques Gastão, Casimiro de Brito, Elfriede Engelmayer, Fernando J. B. Martinho, Maria João Fernandes, Pedro Sena-Lino, Rogério Barbosa da Silva e Ruth Rosengarten) sobre a obra de Ana Hatherly. Os ensaios fazem parte da colecção Faces de Vénus, coordenada por Annabela Rita (doutorada em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea).
"Interfaces do Olhar" inclui ainda algumas entrevistas e uma antologia poética de Hatherly: meditações sobre a escrita, sobre a natureza, sobre a natureza humana... em poemas por palavras e em poemas por imagens (na sua sábia e inspiradora escrita de poemas visuais). A finalizar a obra, lugar ainda para uma detalhada bibliografia.
No seu conjunto, o livro constitui uma panorâmica da sua multifacetada obra, que se inscreve na linha de modernidade que dominou as artes e as letras do século XX - em que Ana Hatherly desempenha um papel fundamental.
Com chancela da Roma Editora
, "Interfaces do Olhar" custa 20 euros.

A ajuda da pequena Matilde entre brincadeiras e coisas sérias

ANÁLISE LITERÁRIA - Infantil
reúne uma dezena de títulos, alguns dos quais integram o Plano Nacional de Leitura.
A Colecção Matilde destina-se a crianças em idade pré-escolar. As histórias retratam, de forma simples, contextos que caracterizam o quotidiano real das crianças. Da autoria de Mary Katherine Martins e Silva (texto e ilustrações), os livros desta colecção (5,88 euros/cada) são acompanhados por um guia para pais, que deixa algumas sugestões para ajudar a criança em situações várias. O formato dos livros não resulta muito cativante para os mais pequenos, porém, as ilustrações conseguem atenuar esse ponto fraco.
"Matilde - Brinca com as Letras!!!" tem por missão despertar para o prazer da leitura: "A Matilde olha para a sua sopa com muita atenção. Lá dentro estão muitas massinhas boas com forma de letras..."
"Matilde - Vai para a Escola!!!" ajuda a criança na entrada para a escola: "A Matilde já tem seis anos. Este é o último ano que está no Jardim de Infância. A Sara, que é a educadora da Matilde, explica aos meninos que já não falta muito para irem para outra escola".
Esta colecção, editada pela Campo das Letras

Bebido o luar

PALAVRAS COM ALMA
Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.

Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.

Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)

Ficção com uma janela aberta para a realidade

ANÁLISE LITERÁRIA – Romance Juvenil


Os livros de António Mota destinados ao público juvenil carregam um profundo conhecimento de comportamentos, independentemente das idades ou dos contextos temporais. Os seus textos (que evidenciam trabalho de pesquisa) fluem num compasso ritmado, atraente e profícuo.
Entretenimento e aprendizagem surgem a par, enquanto resultado de uma escrita nada rebuscada mas escorreita e consistente, capaz de captar a atenção e assegurar o interesse do leitor.
"Pardinhas" é um dos vários títulos da colecção "Livros de António Mota". A viagem até Pardinhas, terra onde havia nascido o avô desta história, serve para desenrolar lembranças carregadas de emoção. Os netos, que dele tinham uma imagem não muito simpática, tornam-se ouvintes atentos das muitas vivências de tempos de outrora.
Os pormenores que o autor coloca na voz do avô estão ancorados na realidade – situações inscritas no passado, mas descritas com uma precisão que parece colocar o leitor nas cenas relatadas.
“Pardinhas” integra o Plano Nacional de Leitura (PNL)
– livro recomendado no programa de português do 8º ano de escolaridade, destinado a leitura orientada na sala de aula.
"Fora de Serviço" é outro título da colecção "Livros de António Mota". Conta a história de uma mulher cansada de ser trabalhadora, esposa, mãe e dona de casa, sem colaboração doméstica dos filhos e do marido. Confrontados com a decisão daquela mulher de investir mais em si e no seu sonho profissional, filhos e pai acabam por perceber o que custa cuidar de um lar e, desta forma, firmam um compromisso que assenta na divisão de tarefas. Também aqui há a clara intenção de despertar uma consciência de contornos reais mas muitas vezes alheios ao entendimento - quer por ignorância de factos, quer por falta de empenho pessoal.
Este livro integra também o PNL - livro recomendado para o 5º ano de escolaridade, destinado a leitura autónoma e/ou a leitura com apoio do professor ou dos pais.
Os títulos aqui em destaque têm chancela da Gailivro
e estão à venda por 9,90 euros/cada.
O AUTORAntónio Mota nasceu em Vilarelho (Baião) em 1957. É professor do Ensino Básico desde 1975. Em 1979 publicou o primeiro livro: "A Aldeia das Flores". Em 1983, com a obra "O Rapaz de Louredo", ganhou um prémio da Associação Portuguesa de Escritores. Em 1990, com o romance "Pedro Alecrim" recebeu o Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças. Em 1996, com a obra "A Casa das Bengalas", ganhou o Prémio António Botto. Em 2004 recebeu, pela segunda vez, o Grande Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças e Jovens, na modalidade livro ilustrado, com "Se eu fosse muito magrinho".
Os seus livros estão antologiados em volumes de ensino do Português e tem obras traduzidas em Espanha e Alemanha. Tem trinta obras recomendadas pelo Plano Nacional de Leitura.