Cegueira bendita

PALAVRAS COM ALMA
Ando perdida nestes sonhos verdes
De ter nascido e não saber quem sou,
Ando ceguinha a tatear paredes
E nem ao menos sei quem me cegou!

Não vejo nada, tudo é morto e vago…
E a minha alma cega, ao abandono
Faz-me lembrar o nenúfar dum lago
´Stendendo as asas brancas cor do sonho…

Ter dentro d´alma na luz de todo o mundo
E não ver nada nesse mar sem fundo,
Poetas meus irmãos, que triste sorte!…

E chamam-nos a nós Iluminados!
Pobres cegos sem culpas, sem pecados,
A sofrer pelos outros té à morte!

Florbela Espanca
(1894-1930)

"E você, já leu uma BD hoje?" - Um blog com muita BD!

SUGESTÃO AVENTURADA
A Banda Desenhada é uma arte mais antiga do que o cinema mas não conseguiu até hoje um reconhecimento global semelhante ao deste.
Tirando algumas excepções, como no Japão onde a sua divulgação é massificada mas é também uma leitura descartável, ou em França e na Bélgica onde anda a par com as outras formas de expressão artística, não fosse uma aparição ou outra nos media, quase sempre por associação a um filme, e a fidelização dos seus leitores, quase se podia dizer que a BD, como entidade própria, não existe.
A data “oficial” do seu nascimento é 1896. Foi em Fevereiro desse ano que “Yellow Kid”, publicado no jornal “New York World”, surgiu pela primeira vez com as características que passaram a definir uma BD tal como a conhecemos hoje: narração sequencial através de uma sucessão de quadros (ou quadrinhos); existência de uma personagem principal que se vai mantendo ao longo de uma série; texto inserido em balões que simbolizam a fala ou os pensamentos dos intervenientes da história.
Talvez porque durante muitas décadas esteve associada a temas um pouco infantis e humorísticos (daí o nome “comics” nos países de língua inglesa), os seus leitores são essencialmente crianças e jovens. E quando estes chegam a uma idade mais adulta param de lê-la, se calhar por quererem algo que vá para além dos Tio Patinhas e Super-Homens a que estavam habituados e não encontram alternativas com facilidade..
O objectivo deste blog é incentivar e (re)despertar o gosto pela leitura de BD naqueles que já o fizeram e entretanto desistiram, e também naqueles que nunca a levaram a sério para que vejam que boas histórias e narrativas existem sob várias formas, não tendo de haver uma escolha entre umas e outras. E ainda, claro, falar para os já convertidos apresentando-lhes e sugerindo-lhes algumas escolhas pessoais que talvez lhes tenham passado ao lado.
Se, por um lado, a BD não é um fenómeno de massas, por outro, quantidade e diversidade de obras não lhe faltam. Em papel há milhares de edições onde escolher (não estamos a falar de Portugal, obviamente) e online também não faltam opções.
E você, já leu uma BD hoje?
Reprodução de texto inaugural de http://afilactera.wordpress.com/

Mau gosto. Ou talvez não!

ANÁLISE LITERÁRIA - Infantil
O título "Amor... que nojo!" poderá despertar alguma repulsa. Ou, tão-somente, curiosidade. Será título que se apresente num livro de literatura infantil? Porque não? É ousado, divertido, apelativo e vai ao encontro de uma expressão típica dos mais pequenos. Pensemos naquelas crianças que face à ternura desmedida da avó, do tio, da madrinha... que as enchem de beijos repenicados, reagem, com peculiar naturalidade, limpando o rosto... isto quando não verbalizam: "Blhac!"
Avancemos agora para um miolo de livro igualmente delicioso, embora com muito "Blhac" à mistura. A história versa a insatisfação de Samuel face a um universo meloso onde as manifestações de amor são uma constante. Farto de tanto amor, ele decide montar a sua bicicleta (metáfora para a imaginação) e fugir de tanto amor. Mas, o amor não escolhe apenas humanos... também animais e até extraterrestres... Não há como escapar ao amor! Nem no interior da selva ou nas profundezas do oceano, ele consegue escapar...
Porém, numa ilha deserta, Samuel vai livrar-se do amor... Ou talvez não! Algo a descobrir pelos pequenos e graúdos que mergulharem na leitura desta divertida e ternurenta história sobre a universal necessidade de Amor.
Pontos positivos também para a ilustração, onde fotografia e desenho se fundem com maestria.
"Amor... que nojo!", da autoria de Michael Catchpool e com ilustrações de Victoria Ball, tem a chancela das Edições Nova Gaia. Custa 11,90 euros.