Contos de todos os tempos sempre em voga

ANÁLISE LITERÁRIA - Infantil

“Contos ou Histórias dos Tempos Idos”, de Charles Perrault, é uma edição que prima pela sobriedade e beleza. As histórias que imortalizaram Perrault (1628-1703), e que constituíram o volume original editado em 1697, revelam-se aqui numa tradução que retém a sua simplicidade e inteligência.
Aos famosos contos “A Bela Adormecida”, “O Capuchinho Vermelho”, “Cinderela”, “O Gato das Botas” e “O Polegarzinho”, Perrault juntou mais três, menos conhecidos: “As Fadas”, “Riquet, o da Poupa” e “Barba-Azul”. Após a edição de 1697, juntou-lhes um último conto, “Pele de Burro”.
Neste exemplar, editado pela Europa-América, cada conto é acrescido da moral da história, em verso, que Perrault incluiu na edição original, mas que foi frequentemente suprimida em versões posteriores.
A singularidade desta obra está também ancorada nas ilustrações de Gustave Doré (1832-1883), um dos mais prestigiados ilustradores do século XIX. São quarenta ilustrações de página inteira, plenas de expressividade.
A crítica contemporânea ao analisar os contos de Perrault lê-os como algo mais do que histórias destinadas às crianças; uma análise à qual é impossível fugir ao constatar a profunda sabedoria com que estão vestidas.
“Contos ou Histórias dos Tempos Idos” (24,10 euros) inclui, ainda, uma nota bibliográfica, um prefácio por P.-J. Stahl e um artigo de Charles Augustin Saint-Beuve.

Perrault, Grimm, Andersen…

A significação de um conto está sujeita a factores vários. Porém, é missão destas narrativas providenciar elementos de resposta (exequíveis ou não) para os conflitos relatados. Transportam algo de didáctico, não só pela ênfase nas qualidades morais do herói ou da heroína, mas também pela aprendizagem que providenciam – quer por retratarem caminhos pessoais de desenvolvimento, quer pela apresentação de situações críticas de escolha com desfecho correcto.
Os contos que continuam a merecer um maior número de edições são sobretudo os dos Irmãos Grimm, os contos em prosa de Perrault, alguns contos de Andersen e algumas adaptações dos clássicos revisitados pela Walt Disney. A maioria das editoras portuguesas tem, entre as suas edições para crianças, uma colecção de contos de todos os tempos.
“Na Terra dos Contos de Fadas” (13,02 euros) é uma das propostas da Porto Editora. Ilustrada por Van Gool, esta obra destina-se a crianças a partir dos cinco anos e é uma compilação de dez histórias e contos.
A editora Papa-Letras, exímia na oferta de livros que complementam o trabalho do educador, têm no seu catálogo vários títulos deste âmbito. “Contos Clássicos 3”, por exemplo, reúne seis histórias clássicas e tradicionais adaptadas por Margarida Braga e ilustradas por Ricardo Neto, agrupadas numa edição modesta mas muito válida (6,21 euros).
Por fim, referência ao livro “Aprender com o Grande Livro dos Contos”, da Didáctica Editora. Uma obra que marca diferença ao conduzir as personagens de oito contos clássicos na apresentação de diversas temáticas: as horas, os tipos de animais, as profissões, as partes do corpo, os números, as cores, as diferenças, as primeiras palavras. Um verdadeiro álbum com ilustrações dinâmicas à venda por 20,14 euros.
 

Dom Quixote sem crenças

PALAVRAS COM ALMA

O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesmo compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que se não sente bem onde está, que tem saudades... sei lá de quê!

Viverei com certeza um terço do que poderia viver porque todas as pedras me ferem, todos os espinhos me laceram. Dom Quixote sem crenças nem ilusões, batalho continuamente por um ideal que não existe; e esta constante exaltação, desesperada e desiludida, destrambelha-me os nervos e mata-me.

Florbela Espanca (1894-1930)