Era uma vez... animais que animam uma infinidade de histórias

ANÁLISE LITERÁRIA - Infantil


Os contos protagonizados por animais caracterizam-se por uma certa humanização dos mesmos. Eles pensam e agem como humanos e muitas vezes aparecem vestidos com roupas “de gente”.
Em “A ratita Tita”, a autora, Nadine Walter, fala de uma ratinha costureira. Este livro (Edições Nova Gaia) é o perfeito exemplo de uma história em que os animais surgem humanizados: comportam-se como pessoas (uns são trabalhadores, outros são inteligentes, outros vaidosos, outros preguiçosos…). A identificação dos leitores com as personagens sai, ainda, fortalecida pelo facto de os animais vestirem roupa. A moralidade que reveste a história passa para o entendimento da criança/leitor de forma discreta mas eficiente. “A ratita Tita” (7,98 euros) retrata as vantagens da entreajuda.
Também ressalvando a importância da entreajuda, do espírito de união e do respeito pelas diferenças, eis “A Pulga Salta-Pocinhas e os Grãos de Areia” (7,49 euros), de Margarida Damião Ferreira. Editado pela Presença, este é um livro com um enredo consistente, ideal para crianças que já apreciem a leitura.
Mas, se a pulga Salta-Pocinhas tem diariamente uma missão muito especial – a de ser mensageira dos grãos de areia –, também “Faísca, o agente especial” acredita que lhe está reservada uma grande missão. Este livro (8,40 euros), de Anabela de Saint-Maurice (Ambar), relata os pensamentos de um perdigueiro português e, através deles, aborda a temática da partilha e, até, dos afectos. Se é certo que a criança imagina que os animais também podem ter sentimentos como os seus, esta história não defrauda as suas expectativas.
Quanto mais novas são as crianças/leitores, menor deve ser o texto e mais valorizada deve ser a componente visual - por forma a remediar a dificuldade de concentração. “Faísca, o agente especial” atende a essa necessidade, porém, nesta obra as tradicionais ilustrações são substituídas por fotografias (de Gonçalo Rosa da Silva).
Os livros ilustrados dão à criança o prazer do jogo visual das formas e das cores. “A Galinha dos Ovos de Ouro” (1,74 euros), editado pela Papa-Letras, é exemplo dessa atenção privilegiada à cor. Da colecção “Mini Contos Clássicos”, este conto, reescrito por Margarida Braga, é um entre os muitos que ficam imortalizados na memória de gerações, pela força, curiosidade ou singularidade de protagonistas do reino animal.
Em “A baleia constipada e outras histórias”, de Marita Ferreira, (Campo das Letras, 7,98 euros) distintos animais – um galo, uma baleia, uma cegonha, um elefante, uma gata, uma jacaré... – surgem a par de alguns objectos animados – uns sapatos, uma nuvem, um bolo, um espantalho... indo, assim, ao encontro da curiosidade evidente dos mais novos no que diz respeito à natureza, aos animais e a tudo o que os rodeia; e despertando/alimentando também a sua criatividade.
No livro “A cabra-cabrita”, Flor Campino confere pensamento humano, sentimentos e linguagem, aos animais, como se estes fossem pessoas. Conta a aventura de uma cabrinha que anseia por liberdade e que, farta de estar fechada, se aventura na montanha. Na caminhada cruza-se com muitos outros animais – a borboleta, o coelho, o ouriço, a lagartixa, o esquilo, o melro, o cuco e o mocho – que a avisam dos perigos que a serra encerra. Mas, apesar da sua imprudência, pois menosprezou os perigos para que havia sido alertada, a história tem um final feliz. Um caçador aparece e resgata a cabrinha e, não obstante ter disparado a caçadeira, o lobo não morre, “desaparece na noite a uivar” – o que exemplifica a tendência para evitar o confronto do jovem leitor com a eventual morte do animal. A percepção de que é sábia a decisão de não descurar os conselhos dos mais experientes é a moral a retirar de “A cabra-cabrita” (8 euros), com chancela das Edições Afrontamento.
A personagem do lobo é, aliás, uma figura deveras requisitada para as histórias infantis.
E, se em histórias como “A ratita Tita” ele não é, afinal, tão mau quanto se possa pensar, normalmente o lobo encarna a figura de vilão, como acontece em “A cabra-cabrita” ou em “Um Lobo pela Trela” (11,90 euros), de Guido Visconti, editado pela Livros Horizonte. O agricultor Osvaldo tem uma tarefa complicada: levar à feira uma couve, uma ovelha que gosta de couves e um lobo que gosta de ovelhas. A missão, após alguns percalços, acaba por ser superada com êxito. Este livro tem a interessante particularidade de desafiar os leitores para a resolução de duas hipotéticas situações. Esta opção, para além de conseguir reter a atenção da criança, garante a sua simpatia por um livro que espera contar com a sua ajuda.

Sem comentários: