Pequenas grandes sugestões...

ANÁLISE LITERÁRIA - Infantil

“O Papá e Eu”
12,50 euros
Texto Editores
"O Papá e Eu", da autoria de Sue Kassier, é um livro com sabor a mel: carrega uma doçura natural. A história deste exemplar centra-se na relação pai/filha. O texto é curto e simples. O amor e a cumplicidade ditam uma alegre e ternurenta partilha do tempo livre. As coloridas ilustrações, de Jerry Smath, providenciam a graça e a dinâmica. Trata-se, sobretudo, de um "álbum" – onde as imagens são o conteúdo dominante.


“Uma Noiva Bela, Belíssima”

14,20 euros
Livros Horizonte


Filomena é a personagem deste breve romance. Costureira de profissão e especialista na criação de vestidos de noiva, a jovem concretiza o seu grande sonho: fazer o seu próprio vestido. Entusiasmada, põe mãos à obra. Porém, no dia do seu casamento com Ferruccio nem tudo corre bem... Neste livro da italiana Beatrice Masini destaque para a fabulosa ilustração assinada por Anna Laura Cantone. Criativa, inovadora e muito divertida, toda a imagem do livro merece uma ressalva especial.


“João Brincalhão”

7,98 euros
Edições Nova Gaia


“João Brincalhão” é um livro com poemas e ilustrações de M. Carolina Pereira Rosa. “De manhã salto da cama/ Começo logo a brincar/ Com os carros, com o gato/ E com tudo o que apanhar” – assim está dado o arranque. Poemas singelos que abordam temas diversos com que as crianças estão familiarizadas. A galinha pimpolina, o cavalinho, a borboleta amarela e o soldadinho de papel são alguns dos personagens. É um livro fresco e leve que marca diferença sobretudo pelas ilustrações – capazes de captar a atenção dos mais pequenos, mas também dos graúdos pelo seu apelo às memórias dos tempos da escola primária.

Saudades

PALAVRAS COM ALMA
Saudades! Sim... talvez... e porque não?...
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como pão!

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,

Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:

Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!

Florbela Espanca
(1894-1930)

“Crescer Cidadão” de forma divertida

ANÁLISE LITERÁRIA - Infantil/Didáctico

“Crescer Cidadão” é crescer consciente dos direitos e deveres que assistem a cada um; é respeitar as diferenças; é aprender a afirmar-se, com informação, correcção e responsabilidade, em contexto de sociedade. A cidadania e todas as noções que lhe estão inerentes, são fundamentais no processo de educação. A colecção “Crescer Cidadão” – que acaba de ser lançada pelas Edições Nova Gaia – vai ao encontro dessas noções. Cada livro tem uma tripla valência: uma história divertida e potenciadora de comportamentos saudáveis; um leque de actividades que visam, pela vertente mais prática, desenvolver uma cidadania activa; e, ainda, um “Guia para educadores”.
Da autoria de Jennifer Moore-Mallinos, “Tu consegues!” e “Posso esperar para crescer!” são os dois primeiros títulos da colecção. Estão à venda por 9,50 euros. Seguir-se-ão os títulos “Tenho dislexia!” e “Jogo limpo!”. As ilustrações – coloridas e dinâmicas – têm assinatura de Marta Fàbrega.
Em “Tu consegues!”, através dos olhos de um menino, exploram-se algumas das situações reais vivenciadas por quem anda de cadeira de rodas. A história põe à prova, sem quaisquer resquícios de vitimização, o desejo de uma criança que apenas quer ser um entre iguais: poder estudar, brincar, passear, jogar…
“Posso esperar para crescer!” fala do desejo, comummente experienciado pelas crianças, de crescer para se livrarem do cumprimento de regras e para não sofrerem as consequências desencadeadas pela desobediência. Acompanhando a história protagonizada pela pequena Tatiana, os leitores vão perceber que há tempo para crescer, aliás “às vezes é difícil ser criança, mas é divertido fazer tolices de vez em quanto” – pode ler-se no livro.
Não se trata de livros encharcados em moralidade, mas sim de livros que através de uma, bem conseguida, aproximação ao universo infantil, retratam os direitos e as obrigações enquanto noções integradoras e essenciais.

Ubi Veritas

ALGUMA INSPIRAÇÃO
Palavras são abelhas
Corais de rosto vivo
Sultanas com sabor a sol
Vestidas de laranja fogo
Fitadas por olhos rasgados

Palavras são anéis
Presos em dedos longos
Sumarentos lábios
Carpidos em mármore lilás
Dourados por gotas de desejo

Palavras são horas
Cravos de aroma silvestre
Bojudas pedras na aurora
Caídas em mar de sono
Ancoradas em praias de amoras

Palavras são garranos
Libertos de dono ou freio
Sementes de leveza etérea
Eleitas para romper
Somadas para dizer



Salomé Castro in Ubi Veritas

A menina que enfrenta os lobos que saíram das paredes

ANÁLISE LITERÁRIA - Infanto-Juvenil


Atenção! Este não é, definitivamente, o típico livro infanto-juvenil; foge muito ao convencional. É preciso ter alguma coragem para folhear esta obra onde o medo do desconhecido é o tema principal. Mas é, também, uma história sobre coragem, vinda de quem menos se espera, vinda dos mais inconformados.
Escrita por Neil Gaiman, argumentista de BD, autor de “O Dia Em Que Troquei o Meu Pai por 2 Peixinhos Vermelhos” e responsável pela adaptação do filme de animação “Princesa Mononoke”, a obra é ilustrada por Dave McKean, ilustrador de centenas de capas de CD, livros e revistas de BD.
Esta é a história de Lucy que, ao andar às voltas por casa, começou a ouvir uns barulhos que vinham de dentro das paredes. Convencida de que se tratavam de lobos, tentou alertar a família, que não a levou a sério. Mas, um dia, “...os lobos saíram das paredes”. A família foi viver para a rua, enquanto via os lobos a destruir a casa. Lucy não desistiu de reconquistar o seu lar e criou um plano muito original para “domar os lobos”.
Com ilustrações fantásticas (nos dois sentidos), recorrendo, por vezes, a colagens de fotografias, McKean cria um ambiente sombrio, perfeitamente adaptado à história de Neil Gaiman.
“Os Lobos nas Paredes” é uma espécie de pesadelo de infância transposto para o papel; sendo um livro que deve ser lido na companhia de adultos. O álbum, da Vitamina BD, custa 16,99 euros.

Há Dias

PALAVRAS COM ALMA

Há dias em que julgamos
que todo o lixo do mundo
nos cai em cima
depois ao chegarmos à varanda avistamos
as crianças correndo no molhe
enquanto cantam
não lhes sei o nome
uma ou outra parece-me comigo
quero eu dizer:
com o que fui
quando cheguei a ser luminosa
presença da graça
ou da alegria
um sorriso abre-se então
num verão antigo
e dura
dura ainda.

Eugénio de Andrade (1923-2005)

Peixes vestidos com sentimentos de gente à deriva num aquário

ANÁLISE LITERÁRIA - Infantil

Um pequeno universo pleno de diversidade - assim é "O Aquário", um livro de João Pedro Mésseder, com ilustrações de Gémeo Luís.
No arranque do "Era uma vez..." desenha-se uma história de fantasia. O desenrolar desvenda um cenário líquido, rico pela diferença. Também as personagens são peças únicas no tabuleiro dos comportamentos e as relações estabelecidas transpiram a realidade.
João Pedro Mésseder conta aos mais pequenos a história de alguns peixinhos vestidos com sentimentos de gente. No seu pequeno mundo (perscrutado pelo olhar de um menino) os habitantes do aquário assumem comportamentos que vincam a diferença e atenuam a natureza que os une. Numa situação limite, as atitudes azedas e preconceituosas acabam por ceder, dando lugar à confraternização, amizade e entreajuda - sem quaisquer moralismos forjados.
"O Aquário" custa 12,50 euros e integra o Plano Nacional de Leitura
para o 3º ano de escolaridade - destinado à leitura orientada na sala de aula (grau de dificuldade II). Trata-se de uma edição da Deriva, cuja linha editorial aposta em dar a conhecer as "literaturas periféricas". "Editaremos escritores que não aceitam a pena perpétua do consumismo como nos é imposto pelo estado das coisas culturais", pode ler-se em www.derivaeditores.pt.
João Pedro Mésseder (pseudónimo literário de José António Gomes) tem publicado poesia e obras para crianças, algumas delas premiadas. Um dos seus livros infantis foi nomeado para a Lista de Honra do IBBY (International Board on Books for Young People).
Gémeo Luís obteve, em 2002, uma Menção Especial do Júri do Prémio Nacional de Ilustração e foi um dos cinco portugueses seleccionados para a exposição internacional Ilustrarte. Em 2006 foi congratulado com o Prémio Nacional de Ilustração, pelo livro “O Quê Que Quem”.

Ubi Veritas

ALGUMA INSPIRAÇÃO
Em altar bordado de pedras
Trocámos promessas
Despidas dos outros
Testemunha cega de amantes eternos,
o oceano
Madrastas fingidas de paixão volátil,
as dunas

Na espuma vadia
Que chora na praia
Percebo a raiva
De um amor por cumprir


Salomé Castro in Ubi Veritas

Traquinices pelos confins do Sistema Solar

ANÁLISE LITERÁRIA - Infantil

Os heróis desta história são a Rita e o Tiago. Juntos, vão aos confins do Sistema Solar: passam pela Lua, por Marte e por Júpiter, e até conhecem um ser extraterrestre e perturbam um cometa. Uma viagem animada pelas traquinices e pela imaginação de duas crianças.
“Foi verdade/ foi um sonho?/ Nem eu o posso dizer/ mas de uma aventura destas/ nunca mais me vou esquecer./ Que viagem/ que memória!/ Agora vai tudo para a cama/ que vem aí outra história.”
“Viagem da Rita e do Tiago pelo Sistema Solar” tem ilustrações de Kathy Silva. Integra a Colecção Palmo e Meio, da editora Campo das Letras
, e custa 10,50 euros.
O autor, Duarte Manuel Correia, é médico cardiologista. Vive no Porto e é membro do Conselho Directivo da Fundação Eugénio de Andrade. Em 1981 publicou o livro “O coração saudável e doente” integrado na Colecção Biblioteca da Saúde, da Editorial Caminho; em 2001 lançou uma pequena história infantil, “Duarte faz tudo ao contrário!!!”, na Colecção Palmo e Meio, da Campo das Letras.

Quando uma família atípica não cabe dentro de casa

ANÁLISE LITERÁRIA – Romance Juvenil
“A família que não cabia dentro de casa” é uma história que corre ao sabor de alguns acontecimentos (ou personagens) que se vão acrescentando à trama. A acção gira em torno de Maria Ana (uma jovem com 12 anos) e da sua atípica família. Tudo acontece num curto período de tempo.
Alexandre Honrado, o autor, faz prova da sua capacidade de aproximação ao imaginário juvenil. O discurso é doseadamente simples, fazendo-se valer de incursões que o projectam para a actualidade/realidade. O potencial comunicativo (no sentido de identificação do leitor com o texto) está, portanto, assegurado.
Mais do que ir adicionando novas personagens, a história parece tropeçar nelas. Acontecimentos inesperados vão carregando consigo novas figuras e, assim, a trama vai ganhando cor. A acção é, ainda, temperada com uma pitada de amor, amizade, humor e, até, um toque de mistério.
“A família que não cabia dentro de casa” é título do livro, mas funciona também como resumo ou pode mesmo descrever, na perfeição, o final da história. A aposta num enredo tão intencionalmente escancarado, poderá parecer redundante ou resultar numa leitura enfadonha... Errado! A mente de um jovem leitor poderá descobrir este livro como uma proposta interessante, assente num discurso coerente e actual. Fresco, leve e arejado. Arrisque-se dizer: um livro com aroma de Primavera.
Para além de escritor, Alexandre Honrado é jornalista, guionista, professor e investigador. É autor de livros para adultos, para crianças e jovens, manuais escolares, letras de canções, peças de teatro, guiões de ficção televisiva.
Com mais de quatro dezenas de títulos publicados em Portugal e no estrangeiro, Alexandre Honrado foi várias vezes premiado. O autor gosta de destacar a atribuição do Prémio de Literatura Infantil Comemorativo do 60º aniversário da Maternidade Alfredo da Costa, ao livro “História Dentro de uma Garrafa” – por ter sido essa a maternidade onde nasceu.
“A família que não cabia dentro de casa” conta com ilustrações de Rogério Taveira. Editado pela Ambar, este romance juvenil integra a colecção Aventura de Viver e está à venda por 9,92 euros. É um livro recomendado pelo Plano Nacional de Leitura para o 6º ano de escolaridade, destinado a leitura autónoma e/ou a leitura com apoio do professor ou dos pais.
Recorde-se que Alexandre Honrado assina outros títulos desta colecção: "Uma Chuvada na Careca", "O Maior dos Mistérios", "Sentados no Silêncio" e "Uma Argola no Umbigo".

Ubi Veritas

ALGUMA INSPIRAÇÃO

Fantasmas retomados, não como imagem exterior.
Como olhar para dentro de nós próprios:
o que guardamos do que fomos,
as opções que não tomámos no momento em que decidimos.
Proposta de desmultiplicação do corpo,
criando várias dimensões no tempo e espaço da realidade.
Motivações abstractas ou inconscientes dirigem o movimento,
definem dinâmicas, ritmos, qualidades, perspectivas, níveis...
O corpo dança com a alma.
Suporte dramático num estrato de consciência.
Ligação entre as imagens e os apontamentos suspeitos.
Mestiçagem de ícones estimulantes.
Transposição cénica ditada pela revisitação de uma memória.
Universo de sonhos, de referências que cada criador traz consigo.
Itinerário preso nos desdobramentos sucessivos da vida.
Destruição e reconstrução.
Abre-se a caixa de Pandora.
Teatro de visões varrido pelo imaginário.
Máquina de liberdade presa na dramaturgia.
Inesperadas janelas de revelação.
Espaços mentais inter-independentes,
resistência furiosa a uma qualquer linearidade cognitiva.
Sugestão do silêncio coreografado e encenado.
Fulgurante concretização de utopia:
rigorosa, feérica, labiríntica, inconclusiva.
Tempo para reaver o sentido e poder mágico da estrutura metafórica.
Teoria prática de um reportório expositivo
fragmentado em leituras cristalizadas.
Viagem que esboça uma história acidentada e com interesse filosófico.
Imagens repletas, saturadas de signos
como num qualquer delírio esquizóide.
Irrealidade do real.


Salomé Castro in Ubi Veritas

Todo dia é menos um dia

PALAVRAS COM ALMA

Todo dia é menos um dia;
menos um dia para ser feliz;
é menos um dia para dar e receber;
é menos um dia para amar e ser amado;
é menos um dia para ouvir e, principalmente, calar!

Sim, porque calando nem sempre quer dizer
que concordamos com o que ouvimos ou lemos,
mas estamos dando a outrem a chance de pensar,
reflectir, saber o que falou ou escreveu.

Saber ouvir é um raro dom, reconheçamos.
Mas saber calar, mais raro ainda.
E como humanos estamos sujeitos a errar.
E nosso erro mais primário, é não saber: Ouvir e calar!

Todo dia é menos um dia para dar um sorriso.
Muitas vezes alguém precisa, apenas de um sorriso
para sentir um pouco de felicidade!

Todo dia é menos um dia para dizer: - Desculpe, eu errei!
Para dizer: - Perdoe-me por favor, fui injusto!

Todo dia é menos um dia;
para voltarmos sobre os nossos passos.
De repente descobrimos que estamos muito longe
e já não há mais como encontrar onde pisamos quando íamos.
Já não conseguiremos distinguir nossos passos
de tantos outros que vieram depois dos nossos.

E se esse dia chega, por mais que voltemos;
estaremos seguindo um caminho, que jamais
nos trará ao ponto de partida.

Por isso use cada dia com sabedoria.
Ouça e cale se não se sentir bem;
Leia e deixe de lado, outra hora você vai conseguir
interpretar melhor e saber o que quis ser dito.

Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987)

Cidade do Porto sob o ouro da Ilha do Chifre

ANÁLISE LITERÁRIA – Romance Juvenil

Rui e Ana – ou Iur e Réa – cumprem uma missão. Eles são os eleitos. O outro lado da cidade do Porto (aquele lado que é aqui e agora mas numa espécie de dimensão paralela) espera por eles. Urge resgatar a Ilha do Chifre de Ouro – pátria de anões, elfos, gnomos, duendes...
A acção desenrola-se a bom ritmo – as descrições motivam o leitor e, embora sejam o ingrediente dominante, são sabiamente travadas para renascer em parágrafos vindouros.
Um romance jovem com sabor a gelado: fresco, doce, ligeiro, saboroso. A escrita é acessível e muito próxima do universo actual dos jovens. Naturalmente, este romance tem particular interesse para aqueles que conhecem o Porto, dada a constante referência à cidade real.
"A Ilha do Chifre de Ouro", de Álvaro Magalhães, parece desvendar um sonho; um daqueles sonhos que recordamos ao acordar, daqueles que misturam, sem castração consciente, a realidade e a fantasia. Que forças maiores ditam aquela conjugação de factos e de ilusão? Não sabemos, mas a verdade é que esses sonhos, tão presos ao inconsciente, nos fascinam.
Aqui reside a força deste livro – com 223 páginas. "A Ilha do Chifre de Ouro" integra a colecção "Romance Jovem" das Edições ASA
– uma aposta que reúne alguns dos grandes nomes contemporâneos, portugueses e estrangeiros, da ficção destinada ao público jovem. Publicado originalmente em 1998, o título aqui em destaque (à venda por 13,50 euros) faz prova da qualidade e notoriedade do autor. A obra de Álvaro Magalhães, nascido no Porto em 1951, conta com mais de três dezenas de títulos e integra contos, poesia, narrativas juvenis e textos dramáticos. O autor foi várias vezes premiado pela Associação Portuguesa de Escritores (APE) e pelo Ministério da Cultura.